POR/BY_FURF DESIGN + DESIGN_ANNA MARTINS
Artigo publicado na edição 59 da Revista impressa abcDesign (2019)

Acreditamos que o primeiro conceito de lar possa ter surgido na época do Homo erectus. Com o domínio do fogo, apareceram as primeiras “luminárias” (tochas e fogueiras) nos primeiros lares, leiam-se cavernas. A essência de casa não mudou tanto: um local com teto, paredes, artefatos e/ou intervenção humana em seu interior. Onde quer que o ser humano crie raízes, nasce o conceito de lar. Bom, na realidade, muito provavelmente os nossos antepassados não chamavam esses abrigos assim com tanto afeto e, caso acabassem os suprimentos de uma região, era só se mudar para outra.

Alguns milhares de anos depois, estamos em 2019 e enfrentamos uma série de problemas ambientais, tanto de poluição quanto de escassez de recursos. Caso se concretizem globalmente todas as projeções catastróficas, não teremos para onde nos mudar. Será?

Hoje já existem empresas com planos concretos e (muito) capital, dedicadas à exploração espacial. Parte delas é composta por empresários bilionários conhecidos, como Jeff Bezos (Amazon), Elon Musk (Tesla) e Richard Branson (Virgin). Algumas prometem um tour que dura minutos, mas outras já estão com listas de interessados em passar semanas fora do nosso planeta. Trocadilho inevitável: com o custo médio de 40 milhões de dólares por uma semana em órbita, os valores são tão astronômicos quanto a experiência.

Designers estrelados – já esse trocadilho não foi tão intencional – têm desenhado para algumas dessas companhias privadas de exploração espacial. Depois de ter colaborado com empresas como Apple, Louis Vuitton e Nike, o designer industrial Marc Newson projetou o interior e o exterior da espaçonave da empresa Astrium, uma divisão da EADS, a maior fabricante europeia de foguetes.

Reconhecido por ser um dos mais influentes designers da história, Philippe Starck também entrou nessa e recentemente revelou o luxuoso interior da estação espacial comercial da empresa americana Axiom, onde será possível morar também.

Em gravidade zero, um interior e todos os objetos contidos nele serão repensados. Novas tecnologias e materiais precisam ser desenvolvidos para usarmos de maneira sustentável o melhor do nosso planeta. Uma notável inovação vem da empresa carioca Nova Kaeru, o único curtume orgânico do mundo, que lança neste ano um “couro” de folha. O material possui características muito similares ao couro bovino, com a enorme diferença de que em seu processo de fabricação sua emissão de CO2 é compensada pela absorção de carbono do plantio e crescimento das folhas, ou seja, é um dos materiais mais sustentáveis do mundo hoje para criar roupas, móveis e até revestimentos de interiores de estações espaciais – já pensou que poético levar um belo símbolo da nossa natureza para tão longe?

O conceito de “se sentir em casa” continuará mutável, uma vez que o futuro apresenta possibilidades que incluem até a colonização de outros planetas. É uma questão de tempo para que se torne cada vez mais comum aclamados criadores implementarem projetos que não se limitam a Terra, este simpático planeta azul que chamamos de lar.

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