por: André Coutinho e Anderson Penha, colunistas da abcDesign, para a edição 58 da revista impressa;

Por mais que acreditemos que as cidades do futuro sejam ancoradas em diversas tecnologias, vemos que verdadeiramente elas vêm sendo forjadas pelas formas como nos apropriamos delas. As cidades são um ponto de convergência entre as evoluções e revoluções contidas no passado, realizadas no presente e prometidas para o futuro.

Não é à toa que elas são um dos panos de fundo mais utilizados na história dos cinemas. Entender as inúmeras possibilidades que podem ser tomadas pela dinâmica social, pensar criticamente sobre o tipo de civilização que poderemos ser e como as cidades se conformarão a essas novas realidades tem sido uma tarefa árdua para qualquer equipe de pesquisa, roteirização e direção dentro da sétima arte. Tanto que, em 2014, “The Guardian” pediu para seu crítico de cinema criar uma lista com os dez melhores filmes sobre as possibilidades mais brilhantes e mais sóbrias que as cidades poderiam se tornar amanhã. Como qualquer lista, ela já é polêmica por natureza, mas para qualquer criativo e transformador urbano o que vale mesmo é beber dessas fontes e, por que não, experimentar ou criar mecanismos que possam evitar algumas dessas possibilidades.

A princípio, isso pode parecer loucura, mas são inúmeros os exemplos de projetistas/urbanistas que se inspiraram ou que foram influenciados pela ficção para redesenhar o contexto urbano. Desde arranha-céus pensados nas ficções do século 19 que viraram cidades como Nova York e Chicago, passando por ciberficções como “Blade Runner”, esses exemplos alimentaram o imaginário criativo dos arquitetos que criariam Pudong (em Xangai) e Dubai e seguem nutrindo as visões de futuro de cidades como Londres, que bebem de fontes como “Minority Report” para desenhar o uso da informação na previsibilidade de seu sistema urbano, como bem coloca o professor Steven Graham, da Newcastle University, em uma entrevista dada à revista digital “Inverse”, em 2016.

Mais do que tecnologias como resposta, seguimos trabalhando com as mesmas perguntas: Qual sociedade queremos criar amanhã? E como as cidades servirão de palco para as micro e macro (r)evoluções que estão por vir? Ao que tudo indica, mesmo com as inúmeras tecnologias aplicadas às cidades de amanhã, seguiremos regidos por esta mesma ética, porém, com outra estética, pois o ganho de consciência ao qual passamos aponta para um futuro em que viver em comunidade exigirá ainda mais de nossa inteligência relacional com a natureza, com as pessoas, com as coisas e conosco mesmo. É notório ver como cidadãos cada vez mais conscientes têm se aproveitado dessas novas tecnologias para criar e recriar suas próprias cidades, sejam elas ficcionais, reais, analógicas, virtuais ou digitais.

O redesign do espaço coletivo passou a ser uma tarefa de todos, dando vida a uma matternet* capaz de traçar novos caminhos e possibilidades para as cidades de ontem, hoje e amanhã.

 

Alguns laboratórios urbanos:
Califórnia (EUA) http://www.future-cities-lab.net/
Tokio (Japão) http://house-vision.jp/en/exhibition.html
São Paulo (Brasil) https://www.facebook.com/abatataprecisadevoce


* Matternet é aplicada aqui tanto como uma rede de pessoas que se importam quanto a
revolucionária empresa de drones (https://mttr.net/) apresentada por Paolo Santana no Friends of Tomorrow Conference 2017 (Brasil) (http://www.aeroli.to/conference/2017/)

 

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